O Mundo Lá de Casa – Quando eu vou para a minha escola
Quando eu vou para a minha escola…
A bicicleta está ligada à minha infância. Cresci numa vila, à beira-mar, onde muitos de nós tínhamos a oportunidade de ir para a escola (ou para a praia) de bicicleta.
Por isso, a primeira motivação para voltar a usar a bicicleta como meio de transporte foi afetiva.
Desde que moro em Lisboa, sempre dei primazia à utilização de transportes públicos, sobretudo enquanto estudante.
Com o nascimento das minhas filhas, o carro passou a fazer parte do dia-a-dia.
E se no início tomei esta decisão por achar que a minha vida ficaria facilitada, o que é facto é que as deslocações “casa-escola-trabalho-escola-casa” tornaram-se cada vez mais demoradas e com a família toda – crianças incluídas – a sentir-se cada dia mais prisioneira do carro.
Se a primeira motivação foi a de ir à procura de emoções de infância, uma outra, não menos importante, foi a de tornar estas deslocações – necessárias e demoradas na cidade de Lisboa – um momento de prazer do nosso dia-a-dia: quer para mim quer para as minhas filhas.
A partir do momento em que decidi “libertar-me” do carro comecei a perceber as diferentes soluções e alternativas. E, na verdade, hoje em dia elas são cada vez mais e mais diversas.
Eu chamo-lhe de “mobilidade flexível” – não sei se o termo existe – e baseia-se na utilização de variadas formas de deslocação de acordo com as necessidades diárias e na qual o carro próprio é, normalmente, a última opção.
Ir a pé ou de bicicleta permite-nos estar atentas aos pormenores, encontrar amigos no caminho, conversar, sentir o vento na cara, usufruir da cidade e do dia (seja de sol, de calor, de frio e até de chuva), passar no parque no caminho de regresso a casa, comprar pão quente na mercearia na rua da escola.
Mas se não der (por falta de tempo, pelas condições climatéricas), também podemos apanhar um metro ou um autocarro. Podemos também alugar uma moto elétrica, ou se a deslocação for maior ou estiver a chover, um carro alugado ao minuto. Ou, se não nos apetecer conduzir, um táxi ou equivalente.
Para além de ter passado a conhecer as diferentes alternativas de deslocação, passei, e passámos todas (as crianças também), a ter mais consciência. Ganhámos não só mais consciências ecológica, mas também uma maior consciência do uso do espaço da cidade.
Passar a andar mais a pé ou de bicicleta fez-nos compreender (e viver isso na pele) que o carro ocupa demasiado espaço nesta cidade: o trânsito, o número de faixas de rodagem, os lugares para estacionar; isto se compararmos esse espaço ao espaço ocupado pelas pessoas (e por bicicletas, por exemplo). E como é o “rei da selva” o abuso dessa utilização é também de grande dimensão: estacionamentos indevidos (em cima de passadeiras, em segunda e terceira fila); excesso de velocidade, entre outros.
Passar a andar de bicicleta ou a pé também fez de mim uma melhora condutora passei a compreender melhor estes perigos de que falei e muitas das atitudes que também tenho (e agora tento evitar) como condutora.
No que diz respeito à consciência ecológica e embora ela não tenha sido a que motivou as alterações na nossa mobilidade diária, como disse, ela surgiu de forma muito natural.
Temos investigado em família respostas às perguntas: qual o meio mais ecológico de deslocação? Qual a poluição para a produção / fabrico de uma bicicleta? quais as diferenças ecológicas de fabrico dos veículos elétricos e dos outros? etc. Que tipos de poluição podem existir?
Acho que esta opção faz de nós uma família privilegiada, não no sentido consumista (de ter um bem material que é um carro), mas no sentido de que podemos usufruir mais destes momentos, uns dos outros e da cidade.
O desafio que lançamos é que experimentem. Atravessem-se aos desafios: talvez haja que reorganizar horários, distribuição de tarefas – não precisam de ser fundamentalistas nem de o fazer todos os dias.
Mas, acreditem, vale a pena! Para nós valeu.
E acho que com pequenos passos, se cada um de nós der esses pequenos passos, a nossa escola, o nosso bairro, a nossa cidade vai deixar uma pegada ecológica cada vez menor e uma marca de mudança e sustentabilidade cada vez maior.
Bárbara Duque,
Mãe da Sofia Cameira do 2ºA