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Ser criança é também brincar
Quando pensamos em brincar, muitos de nós reduzimos o brincar a uma atividade secundária da infância. No entanto, é exatamente o contrário. O brincar é inato, faz parte da condição de sermos seres sociais. Tem, portanto, características únicas que a distinguem de todas as outras atividades sociais.
Em primeiro lugar, o brincar é uma atividade livre: ela é escolhida , conduzida e organizada pelas crianças. Em segundo lugar, o brincar desenvolve um conjunto de aprendizagens que trabalham as competências motoras, cognitivas, sociais e emocionais. As crianças, ao brincar livremente, aprendem a comunicar, a colaborar e a solucionar os problemas de forma criativa, bem como a resolver conflitos ao interagirem umas com as outras. Quem interage com os outros cria empatia e desenvolve a sua inteligência emocional e afetiva. Nada disto acontece se não lhes for proporcionado contextos desafiantes, fora da constante gestão dos adultos .
O brincar na infância deve, assim, ocupar um espaço e um tempo primordial no dia-a-dia das crianças. A liberdade que elas ganham ao brincar faz com que elas se tornem auto-confiantes e se auto-regulem. Sabemos que as competências que adquirimos na infância são as que precisamos na vida adulta. Logo, se privarmos as crianças do brincar, debilitamos a aquisição das mesmas.
A grande questão é: As nossas crianças brincam menos que há duas década atrás? A resposta é simples: brincam muito menos, são menos autónomas e têm menos mobilidade que a geração dos seus pais. Claro que somos todos vitimas de uma sociedade cada vez mais veloz em que o tempo de qualidade escasseia. Mas somos, também, uma sociedade cheia de medos e inseguranças, sendo que muitas vezes projetamos os nossos medos nas crianças. Vemos excessivamente perigo em todos os movimentos do corpo e frequentemente confundimos perigo com risco. O perigo é uma situação que ameaça a existência de uma pessoa ou coisa. O risco é algo que faz parte da aventura de sermos humanos, representando uma oportunidade de aprender e alcançar algo que desejamos.
É óbvio que o brincar para uma criança passa pela representação de infinitos papéis e é essa experimentação que cria seres humanos curiosos, resilientes e felizes. Agora, a outra questão é: como quebrar a nossas barreiras mentais como educadores e pais? Em primeiro lugar, é necessário devolver a rua às crianças, requalificando o espaço público e urbano (profundamente motorizado e pouco amigo das crianças). Em segundo lugar, é preciso requalificar os recreios escolares de forma a que se tornem mais aliciantes. Em terceiro lugar, faz falta aumentar o contacto com o meio natural, aproveitando toda a sua riqueza sensorial. Em quarto lugar, urge alterar as rígidas rotinas diárias das crianças, que têm um excesso de atividades estruturadas que as deixam completamente esgotadas. Por fim, só me resta dizer: vamos devolver o tempo às crianças. Como fez o chapeleiro, na obra infantil “ Alice do País das Maravilhas” (Lewis Carrol ),ao tentar arranjar o relógio do coelho branco, , que não indicava as horas e o fazia estar sempre atrasado, destruindo-o, é preciso libertar as crianças da tirania do tempo e dar-lhes tempo de qualidade para brincar.
Mafalda Guimarães, coordenadora pedagógica da Apeel
E para nós, o que significa brincar?
Os adultos têm sempre algo a dizer sobre o que é brincar e inclusive estão sempre a escrever artigos sobre isso, mas nós crianças também temos uma palavra a dizer sobre o assunto! E quem melhor do que nós para falar sobre isto? Afinal, brincar é connosco!
O brincar, segundo a ótica dos nossos alunos.
Brincar é uma maneira de conhecer outras pessoas, e uma forma de demonstrar o que sentimos, como por exemplo: alegria, tristeza, ansiedade, zanga ou raiva. Brincar é também sorrir, fazer novas amizades e é uma forma de mostrarmos o que mais gostamos. Mas quem disse que brincar é sempre muito bom? Brincar não é só felicidade, porque por vezes há zangas e meninos que se magoam e como é óbvio isso traz momentos de menos alegria. Mas deixando de lado estes episódios menos agradáveis, brincar é aprender coisas novas com outros meninos, e aprendemos coisas mesmo muito importantes, tais como, viver em sociedade, pois aprendemos a estar com meninos diferentes de nós e aprendemos a aceitá-los. Por exemplo, quando brincamos com meninos de países diferentes aprendemos muitas vezes brincadeiras dos seus países, e isso é fantástico. Por fim, (alguém nos disse que não nos podemos alongar muito) brincar é mesmo muito importante, porque usamos a nossa imaginação e a nossa criatividade e se não brincássemos seríamos sem dúvida crianças muito solitárias e tristes.
Os alunos da nossa escola.