Mundo Lá de Fora – Autonomia e Mobilidade das Crianças
Respondendo ao desafio lançado pela Associação de Pais da EB1 Bairro de São Miguel para que pudéssemos contribuir para os conteúdos desta 2ª Edição do Sô Miguel, que gira em torno das questões de mobilidade, procuramos não incidir sobre algumas das respostas mais mediáticas em torno do espaço público ou das formas alternativas de circulação, mas antes na necessidade de se desenvolverem competências que visem a mobilidade infantil, enquanto contributo para o desenvolvimento das crianças.
Consideramos que este é um desafio exigente, mas muito compensatório na medida em que promove capacidades a diversos níveis, nomeadamente no âmbito físico-motor, no domínio das aptidões pessoais e sociais e de autonomia e envolvimento com o espaço e o meio.
Estas estratégias que visam a prática das crianças no presente, tem também benefícios de longo alcance, permitindo incutir raízes para o futuro, por exemplo ao nível da consciencialização para hábitos de vida saudáveis, para a sensibilização ecológica, para o respeito pela sua cultura e pelo seu património.
Como todas as escolas, integradas no Bairro de Alvalade, a EB1 do Bairro de São Miguel, é um exemplo extraordinário de como esta é uma preocupação que acompanha a evolução dos tempos. No plano do Bairro quando se fez a integração de escolas do 1º Ciclo, procurou-se que estas não distassem mais de 500 metros das residências, de forma a que todas as crianças pudessem circular com facilidade e autonomia. A freguesia construiu-se nesse sentido, facilitando os itinerários e deambulações.
O Pelouro da Educação da JFA tem tido particular atenção nesta área, contribuído para a dinamização e apoio a um conjunto de projetos que, de forma direta ou indireta, visam os seus pressupostos. Parte destes provém das próprias escolas, e para os quais temos sido desafiados, que procuram a relação com o meio e com o espaço envolvente, pelo usufruto dos jardins, das bibliotecas, dos equipamentos desportivos e culturais. Outros, inversamente, propomos nós às escolas, e que procuram apresentar a freguesia às crianças, fazê-las relacionarem-se com ela, reconhecê-la, construindo assim identidade e vínculo.
É uma ambição poder contribuir para o usufruto da freguesia por parte das crianças, facilitando para a sua progressiva autonomização, criando redes que lhes permitem reconhecerem e serem reconhecidos.
Fazemo-lo de dentro para fora e de fora para dentro, promovendo um conjunto de experiências nas escolas e no seu exterior – no âmbito desportivo, cultural, cívico – através de meios próprios ou procurando a colaboração com instituições sediadas na freguesia. Foi assim que surgiram os projetos de ciclismo, da patinagem, de skate (algumas inseridas nas oficinas de carácter gratuito) que visam ser formas alternativas de deslocação no espaço urbano, fazem uso do espaço de escolas e de um conjunto de outros equipamentos de proximidade na freguesia. Procuramos assim contribuir para o enraizamento das crianças no seu meio, propondo a sua deslocação pelo território em período não escolar.
De salientar ainda os projetos neste âmbito que surgem dos próprios fregueses, como recentemente o projeto Brincar na Rua em Alvalade, concebido e organizado por um conjunto de mães da Freguesia, ao qual o pelouro da Educação e Desporto da JFA se associou.
Embora possa parecer que nos estamos a distanciar do tema proposto, aquilo que procurámos fazer, foi evidenciar este assunto no âmbito da educação. Isto por considerarmos que devem existir estratégias que visem o estímulo à autonomia, e à mobilidade das crianças na cidade, mas também estratégias que tendem a valorizar e a incentivar a circulação pedonal, ou outras formas alternativas de mobilidade que lhes sejam acessíveis.
Acreditamos que as grandes preocupações globais no âmbito da mobilidade se enraízam e transformam na infância, através de uma aprendizagem prática e quotidiana, começam por aprender a caminhar, a correr a conhecer o espaço e as pessoas que as rodeiam. Como foi referido por uns dos convidados na primeira iniciativa do “Brincar na Rua”, “é preciso aprender a viver mais devagar” e neste caso Alvalade reúne muitas das condições para se o poder fazer.
Muito haverá certamente a fazer neste âmbito, entre questões para as quais poderemos contribuir, e outras que nos ultrapassam, mas estaremos atentos e disponíveis para prosseguir neste caminho.
Ricardo Varela
Vogal da Educação da Junta de Freguesia de Alvalade